Depois do Cafezin #21: Especial Uruguai 2019 - Parte 02
URUGUAI 2019
Primeiro, se você não leu a edição #01, indico ler para saber como foi a viagem do Brasil até a primeira cidade no Uruguai.
VALIZAS, ROCHA, URUGUAI - MONTEVIDÉU, URUGUAI
3h41 min (263 km)
Naquela manhã, mais tranquilos de tempo, sem pressa para irmos rumo a Montevidéu, levantamos, passei um café, Cintia arrumou a mesinha embaixo da árvore, e lá ficamos mais tempo, conversando, contemplando aquela natureza de saturação intensa, e anotamos algumas ideias em um pequeno caderno da Cintia.
Tomado o café, em um clima quase meditativo, lavamos tudo, arrumamos, deixamos um recado agradecendo a recepção da dona do imóvel e seguimos. Quase quatro horas de estrada nos aguardavam, estradas essas que nunca havíamos passado, era outra atenção. Eu mantinha-me como copiloto.
UM FARTO CAFÉ
É de se imaginar que chegamos famintos na capital uruguaia. Contudo, além de um salgado, também queríamos um café. Em uma esquina, charmosa pela arquitetura clássica, incluindo a parte interna que mantinha a aparência tradicional tal como sua externa, foi o ponto de chegada.
Paramos, entramos admirando o local, sentamos e fizemos nosso pedido. Era um “desjejum”, como chamam. Pensei que seria básico, mas nos surpreendemos. Enquanto isso, fiquei lendo a edição uruguaia do EL PAIS, jornal tradicional em seu formato standard/broadsheet, comuns nas metrópoles. Eu e Cintia comentamos as notícias, conversávamos sobre as observações do local, até que o farto café chegou.
Café preto, biscoito, media luna (um grande croissant), doce de leite, manteiga, água com gás, Suco de laranja, frutas… Tudo em grande escala. O que nos deixou bem alimentados, mais do que pensávamos, pois foi bastante até para mim, um comilão.
O HOTEL E UM ELEVADOR ANTIGO
Das cidades por quais passamos, duas ficamos em hotéis: Montevidéu e Punta Ballena.
No hotel da capital, ficamos no nono andar; o elevador novo ia até o oitavo. Ao chegar, havia um elevador daqueles antigos, clássicos, de portãozinho, digno das novelas de época, e uma escada caracol. Cintia foi ao elevador; já eu preferi subir na escadinha. Se não me sinto bem nos novos, imagina naqueles antigos. Hoje até estou melhor, casar com psicóloga nos faz bem, contudo, estamos falando lá do início da relação, né?
Resolvemos dar uma descansada, o clássico cochilo para reenergizar e, então, caminhar para conhecer o bairro.
Passamos em alguns supermercados e, em cada vez que íamos em algum, encontrávamos produtos diferentes. Até engraçado, confesso.
Tinha um chips sabor ovos fritos, daquelas batatas estilo Ruffles. Depois, algumas cervejas diferentes e, o que mais encontrávamos por metro quadrado: alfajores, muchos alfajores!
CARNAVAL
Era final da tarde, início da noite. Os estabelecimentos podiam vender bebida alcoólica até certo horário. Percebemos que o povo estava se mobilizando para o centro para ver os desfiles. Pelo que entendemos, o carnaval dura o mês todo, vai acontecendo pelas cidades durante esse mês, como se fosse cada dia em uma, por exemplo. Cada “alegoria” era de uma empresa, algo muito mais circense, diferente do nosso, essa pegada de circo com mistura dos mascotes das empresas que patrocinavam. Ficamos assistindo e vendo um pessoal passando, tomando leite direto da caixinha. Eu e Cintia nos olhamos estranhados, seguimos matutando aquilo, até passarmos em um mercadinho e identificarmos que era vinho. Vinho nas nossas famosas caixas Tetra Pak.
Assistimos ao carnaval, caminhamos pelo centro iluminado e colorido e fomos para o hotel dar um dez, planejarmos o passeio da manhã seguinte.
WALKING TOUR
Na manhã do outro dia, tomamos café e fomos para a Praça da Independência, onde há uma grande estátua do Artigas, herói nacional do país. Lá, havia dois guias do chamado Walking Tour. Era um tour guiado, caminhando pelos pontos turísticos do Uruguai. A praça fica em frente ao prédio presidencial, onde cada andar é um ministério. Nos surpreenderam a educação e a segurança, a ponto de ser muito fácil o acesso ao tal prédio. A moça nos comentou sobre a praça, sobre o Artigas, sobre os prédios… Inclusive, há um prédio de pedra, antigo, lindíssimo, e foram feitos dois iguais: um no Uruguai e outro na Argentina. O arquiteto se inspirou no Inferno de Dante e suas fases, então, ainda que tenha elevadores, é um em cada andar. Você precisa sair para pegar o outro e subir. Uma experiência interessante, mas que, no dia a dia, convenhamos, deve ser cansativa.
Finalizamos no mercado público, um lugar enorme e lindíssimo, todo feito para ser uma estação de trem no estilo europeu. Ocorre que, após construída, há alguns séculos, o governo cancelou aquele trecho da estrada de ferro. Para não ficar um espaço fantasma, transformou-se em mercado público, com muitas lojas, restaurantes e uma movimentação forte. É nesse encerramento que realizamos o pagamento para os guias.
O “GUARDA BRITÂNICO”
Embaixo da estátua do Artigas, onde iniciamos o passeio, há um memorial para o herói. Descemos as escadas e, no subsolo, nos deparamos com quadros, momentos históricos, itens e o seu memorial. Ali estava um guarda, com trajes militares azuis, no estilo clássico. Paradíssimo, parecia aqueles britânicos. Eu caminhava atento aos quadros e lendo a história. De fato, acreditei ser uma estátua. Em determinado momento, olhei para um item e vi a, até então inanimada figura, se movendo rapidamente para o lado. Dei um grito, leve, mas um susto sincero. Era a troca de turno. Outro descia as escadas com as mesmas vestes para assumir o posto. Enfim, sem mesmo nunca ter ido para a Inglaterra, agora sei como é a sensação de ver um desses guardas se moverem. Porém, quando no Reino Unido, já sabemos que são reais. Ali, me passou ser apenas uma homenagem. O susto valeu, e talvez seja um dos que eu mais lembre.
TEATRO SÓLIS
Depois do nosso tour, almoçamos e, no período da tarde seguimos conhecento a capital. Descobrimos o Teatro Sólis. Ali, a guia comentou o quão forte é a cultura no país. Há uma política pública, da qual ela foi uma pessoa que vivenciou isso, em que estudantes de cidades mais interioranas vão, um dia, vivenciar esses ambientes culturais como teatros, museus, para tornar de fato acessível até para quem mora longe. Dessa forma, ela teve mais acesso à cultura e começou uma faculdade na capital, sendo bolsista ali no teatro. Ela falava, além do espanhol, inglês e português muito bem. Segundo ela, é comum os alunos se formarem falando três línguas.
Dois detalhes nos chamaram a atenção:
O primeiro foi quando ela comentou que cerca de 90% das universidades não possuem mais vestibulares. Tornou-se já natural aqueles com mais condições colocarem seus filhos em universidades privadas, enquanto as públicas ficam voltadas para os que não possuem condições. Porém, você é obrigado a fazer um ano do curso escolhido, visto que tirou a vaga de alguém. Nessa já sentimos a diferença, enquanto os mais ricos conseguem passar para as federais, os mais humildes lutam por bolsas e se viram para pagar as privadas.
Já o segundo foi sobre o próprio Teatro Sólis. Ponto turístico, com atrações recorrentes e ações para mantê-lo rentável, era público. E a prefeitura assumiu após a iniciativa privada não conseguir tocar como deveria. Não sei se tratam com naturalidade, mas, para nós, brasileiros, foi interessante.
Caminhamos pelo teatro, assistimos a uma apresentação de dois atores do local, conhecemos outros bolsistas e retornamos para a Praça da Independência.
MUSEU DE HISTÓRIA DA ARTE
Não irei me prolongar nessa edição, será o último tópico. Esse foi o primeiro museu grande que conheci. Uma experiência marcante, pois foi ali onde vi, pela primeira vez, um sarcófago de múmia egípcia, armaduras reais de samurais, estátuas de figuras históricas e de deuses mitológicos. Andamos com calma, observando tudo mais de uma vez, registrando na memória além das fotos. Fotos somente onde permitido! Mas foi uma experiência maravilhosa. Mesmo andando por todos os andares e seções, parece que não vimos o suficiente. Deixarei algumas imagens para compreenderem.
Esse foi nosso “rolê” da tarde. À noite, jantaríamos em algum restaurante interessante para, no outro dia, almoçarmos e irmos para a próxima cidade. Sobre Colônia do Sacramento contarei na próxima edição!




